segunda-feira, 1 de março de 2010

O Vendedor de Sonhos

No primeiro semestre de 1.999 ministrei algumas palestras para os alunos do curso de Ciências Contábeis da UCAM em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro.
Boa parte dos temas ministrados foi sobre perspectivas da profissão contábil, proferidas com bastante entusiasmo de minha parte.
Ao final deste ciclo de palestras fiquei sabendo que uma parte dos alunos desta conceituada instituição me denominaram de “O Vendedor de Sonhos”.
Não fiquei surpreso ou sequer ofendido com esta alcunha. Na verdade, senti-me até lisonjeado e recompensado em minha cruzada na valorização ou na adequação à realidade da profissão contábil.
Somente nos primeiros quatro meses do referido ano, entre as inúmeras citações pela mídia destacando a profissão contábil, lembro algumas que evidenciam a relevância desta profissão na virada do milênio:
• Em 19/01/99, no suplemento de FRANQUIAS do Jornal “O Estado de São Paulo”, página 7, Charles B. Holland afirma: “ Só existe uma solução viável para melhorar em curto tempo a postura ética nos negócios: convocar os 300 mil contadores e técnicos em Contabilidade do Brasil . . . O que os contadores podem fazer para ajudar o Brasil? Muito, porque estamos vivendo um momento histórico. O progresso do país depende dos contadores.”
• Em 27/01/99, na reportagem de capa da Revista Veja – Ano 32, nº 4 – abordando a globalização, há referência a David Morrison, diretor do Fórum Econômico Mundial realizado em Davis, na Suiça, que propõe as saídas para evitar crises dizendo (página 51): “As empresas seriam auditadas por padrões internacionais de Contabilidade. Os governos aceitariam abrir suas contas e se comprometeriam a não esconder seus déficits.”
• Ainda em Janeiro/99 o Boletim do IBRACON prepara o Nº 248 para falar especificamente do "Assurance Services: Novas Oportunidades para a Profissão". Os articulistas, liderados por Ernesto Rubens Gelbke, começam dizendo que "para nutrir e estimular essa visão, informamos que estudos já desenvolvidos estimam que a exploração ampla dos ‘assurance services’ permitiria a uma empresa de auditoria duplicar ou até triplicar seu volume atual de faturamento”.
• Em 07/02/99, no Caderno de Empregos, o jornal “O Estado de São Paulo” aborda nas páginas 01 e 12 as novas funções do contador no mercado. Só para exemplificar uma das especializações da Contabilidade, o cargo de Controller, a média salarial no mercado chega a R$ 9.529,00 conforme pesquisa citada por aquele jornal.
• Em 24/02/99, na sessão Em Primeiro Lugar, a Revista Exame, no artigo “Tenha Medo de se Sentir Seguro”, mostra que uma das maiores empresas aéreas do mundo, a Lufthansa, quase quebrou por uma decisão errada em relação ao fluxo de caixa. Evidencia como a Contabilidade pode salvar a empresa. Sem ela, por mais forte que a empresa seja, pode desaparecer da noite para o dia.
• Ainda em 24/02/99, nesta mesma edição da Revista Exame, é destacado, na página 105, a importância da Contabilidade para a Cabimaster, patrocianada pela General Motors. Mostra ainda o que é uma gestão esperta, destacando uma empresa com um excelente desempenho por construir um banco de dados para tomada de decisões.
• Em 26/02/99, no Caderno Empresas & Carreiras, o artigo “Globalização Exige Novo Perfil de Contador”, a Gazeta Mercantil mostra que a remuneração do Contador Global varia entre $ 200 a 300 mil dólares por ano. Mostra que a Organização Mundial do Comércio abrigará negociações sobre a liberalização de serviços profissionais contábeis a partir do próximo ano.
• Ainda em 26/02/99, a Gazeta Mercantil disponibiliza várias páginas com o título “Em Busca da Melhor Informação” comentando sobre um projeto pronto que está indo para o congresso com o objetivo de mudar a parte contábil da Lei das Sociedades Anônimas. Este projeto obriga empresas de grande porte, mesmo fechadas, a publicar seus balanços, incluindo praticamente todas as multinacionais, mesmo grandes grupos nacionais avessos a dar informações. Este artigo mostra como será ampliado o campo profissional do contador.
• Em 03/03/99, a Revista Veja fala do Empate Técnico entre os Bancos Bradesco e Itaú. Na página 101 Olavo Setúbal explica: “Nosso sucesso está alicerçado numa base de tecnologia, Contabilidade e análise de negócios por modelos matemáticos”. Assim, o Banco Itaú S.A. entende que a Contabilidade é um dos pilares do seu sucesso.
• Em 22/03/99, o The Wall Street Jornal América, em artigo reproduzido no jornal O Estado de São Paulo, fala sobre o slogan da primeira campanha da Price Waterhouse Coopers, uma das maiores firmas de consultoria e auditoria do mundo: “Juntos, poderemos mudar o mundo”. Além de conquistar clientes esta empresa quer atrair novos talentos para as 52 mil vagas que devem ser preenchidas em seus escritórios no mundo todo até o final do ano.
• Em abril/99, na Revista Você S.A., há destaque das melhores profissões nos Estados Unidos. Das dez melhores, cinco se referem a Informática, entre as sete primeiras. As duas que não são de informática são da área contábil: atuário (segundo lugar) e contador. O artigo é anunciado por aquela revista com a seguinte chamada: “Quais as melhores profissões? Astronauta? Banqueiro? Não. A resposta é: contador, atuário e matemática. Atenção: isso não é gozação”.
• Em Abril/99 Achiles Yamaguchi escreve o artigo "Arbitragem torna-se um novo desafio para os contadores" na Revista FENACON - Edição 40. Ele destaca o novo campo de trabalho dizendo que o contador deve estar preparado mediante especialização, para ocupar espaço a ele destinado e atuar nesta nova forma alternativa de solução de controvérsias e litígios.

Ainda neste semestre tive a oportunidade de lançar pela Atlas, em co-autoria com Sérgio de Iudícibus, o livro Introdução à Teoria da Contabilidade, onde, no capítulo dois, é apresentado um quadro sendo destacado vinte e três especializações ou alternativas de trabalho diferentes para o contador. Este assunto foi publicado na revista CRCPR nº 123/99.
Tenho constatado que o nível de desemprego do profissional contábil de bom nível é praticamente zero.
A nova proposta de Lei das Sociedades Anônimas, já correndo no Congresso, obriga a auditoria independente às sociedades de grande porte, mesmo quando não constituídas sob a forma de sociedades por ações. Isto significa uma significativa ampliação do mercado de trabalho do auditor independente.
Por isso, e muito mais, você pode sonhar alto, caro estudante e profissionais que estão investindo na Contabilidade. Pode aumentar sua auto-estima, pois você escolheu uma das melhores (quem sabe a melhor) profissão da virada do milênio.
As chamadas profissões nobres já não oferecem perspectivas financeiras como às denominadas Ciências Gerenciais (incluindo Contabilidade e Administração).
No seu artigo Profissões Menores a Revista Você S.A. em abril/99 diz que no Brasil há hoje cerca de 400.000 advogados na ativa. A cada ano, outros 43.000 recém-formados juntam-se a eles. São mais de 230.000 médicos. As universidades despejam no mercado 10.000 novos médicos anualmente. “Não há emprego, obviamente para toda essa gente e quando há, a remuneração em geral é muito baixa. Se sobra desse lado, falta de um outro”, diz o artigo referido.
O Brasil tem excesso de dentistas, segundo as estatísticas. Em algumas áreas de engenharia o desemprego é galopante. Onde está a glória das profissões denominadas nobres?
Por outro lado, temos em torno de 110.000 contadores credenciados no Brasil para um universo de quase 5 milhões de empresas, para a demanda cada vez maior por auditor independente, auditor interno, perito contábil, investigador de fraudes, planejador tributário, analista financeiro, controller, professor universitário, pesquisador, autores, cargos públicos (concurso), consultores etc.
Não só a demanda por contadores aumenta, como também, a média salarial e a remuneração pelos serviços prestados por estes profissionais.
Digo mais uma vez aos estudantes: é preciso sonhar. O professor Victor Mirshawka Jr., especialista em criatividade diz que “as pessoas que sonham com o impossível são as únicas que tem chance de alcançá-lo. Há exemplos de muitas pessoas cuja força de sonhar com o impossível as levou a coisas impressionantes.” (1)
Todavia, na profissão contábil, diante das inúmeras perspectivas, não precisamos sonhar com o “impossível”. Sonhar sim com realidades possíveis, com projetos exeqüíveis. Sonhar, neste caso, é estabelecer uma visão para identificar claramente onde queremos chegar. Significa traçar nosso destino, planejar caminhos para alcançar metas ousadas. Sonhar é o contrário de vagar no tempo e espaço. É o contrário de esperar as coisas acontecerem por elas mesmas.
Ter uma visão não é tudo. É preciso colocar esta visão em ação, é preciso desenvolver seu potencial. Não basta apenas ter um diploma. É preciso conhecer informática, falar outra língua, ser criativo, saber trabalhar em equipe, ter equilíbrio emocional, aprender a liderar, motivar, navegar na Internet, boa comunicação, estar pensando em pós-graduação, ler muito e sempre etc.
Alguém que tem sonhos elevados certamente tem um plano de ação igualmente relevante.
Por exemplo, um desempenho apenas razoável em termos de aproveitamento no curso que está sendo cursado não é coerente com uma visão arrojada.
Lamentavelmente, boa parte das Instituições de Ensino Superior permitem a aprovação do aluno e lhe concede diploma se sua nota for cinco. Que profissional será este?
Para ilustrar, eu conto aos meus alunos a fábula do "doutor nota seis".
Um paciente estava na mesa de cirurgia sendo anestesiado quando entra o cirurgião. Algumas pessoas na sala brincam com ele dizendo:
-“Oi, doutor nota seis, tudo bem?”
Para surpresa do paciente, em poucos minutos, ouviu diversas vezes a equipe cirúrgica chamar seu médico de "doutor nota seis".
Curioso, diante daquele quadro, ele indaga a uma enfermeira que estava ao seu lado, sobre aquele título estranho do seu cirurgião.
Falando bem perto do seu ouvido, a enfermeira cochicha ao paciente a ser operado:
-“É que ele só tirava nota seis no seu curso de medicina.”
Coloque-se no lugar deste paciente. Você submeteria sua vida a um profissional que domina apenas 60% dos conhecimentos necessários para salvar sua vida? Certamente não. Sairia bem rápido daquela sala.
O futuro profissional contábil será “médico de empresas”. Imagine se você conhecesse apenas 60% ou 70% das técnicas de salvar empresas. Como elas não podem fugir, é provável, dessa maneira, você se tornar um assassino de empresas.
O sucesso será real para “doutores nota dez”, nota nove. É importante entender que uma visão se concretiza à medida que se trabalhe para alcançá-la.
Hoje, a profissão contábil oferece um panorama altamente atraente(2). Todavia, não há lugar para aqueles que não alcançarem um bom indicador de competência e ética.
Não sou um vendedor de fantasias e ilusões. Mas sim de sonho que propicia uma visão aliada em ação.
Em meu artigo A Profissão do Futuro(3) chamo atenção da necessidade de se construir marca e marketing pessoais. Estas variáveis fazem parte da ação para se alcançar a visão.
É necessário também que as grades curriculares que estão sendo modificadas para iniciar o ano 2.000, através de um projeto pedagógico conforme a nova Lei de Diretrizes e Bases, sejam muito mais flexíveis aos sonhos dos nossos estudantes.
Uma das versões das Diretrizes Curriculares dispõe da necessidade do estudante, já no primeiro ano, ter atividades sobre formação profissional. A partir do segundo ano, opções para se iniciar em pesquisa e ensino ou se iniciar na prática profissional são sugeridas. Através destas opções e outras atividades complementares articulando teoria-prática, o estudante estará motivado a construir sua grade curricular específica e a optar pelos cursos seqüenciais afins.
A "camisa de força" curricular vai desaparecer. As Instituições de Ensino Superior (IES) deverão ainda, conforme as diretrizes curriculares, criar mecanismos de aproveitamento de conhecimentos para os estudantes, através de estudos e práticas independentes, presenciais ou à distância, como: monitorias, estágios, programas de iniciação científica, cursos realizados em outras áreas afins, estudos complementares, empresa júnior, participação em congressos etc.
Por outro lado, o MEC está exigindo cada vez mais das IES um corpo docente qualificado e titulado. Temos sido convidados constantemente para ministrarmos a disciplina Metodologia do Ensino da Contabilidade. Os professores de Contabilidade estão buscando novas metodologias que facilitem a alavancagem dos nossos estudantes nos seus sonhos. Em artigo recente sobre este assunto(4) ressaltamos mais de dez metodologias de ensino para as disciplinas de Contabilidade.
De maneira geral vivemos em um bom momento para sonhar. Gostaria de concluir falando de um profeta bíblico - Habacuque(5), que vivia se queixando e se lamentando diante de Deus em circunstância das dificuldades e falta de perspectiva. Depois de diversas lamentações, Deus diz a ele: "Escreve a visão, grava-a claramente, sobre tabuletas para que se possa ler freqüentemente. Pois é ainda uma visão para um tempo fixado: aspira por seu termo e não engana; se tardar espera por ela" (Habacuque 2:2-3).
Em outra versão a tradução é a seguinte: "Então o senhor me respondeu e disse: escreve o sonho e torna-o bem legível sobre tábuas, para que possa ler quem passa correndo. Pois o sonho é ainda para o tempo determinado, e se apressa para o fim. Ainda que se demore, espera-o, porque certamente virá, não tardará”.


Citações Bibliográficas

1. Sonhe com o Impossível. Revista Você S.A. Ano 1 N. 10/99.

2. Uma Visão Panorâmica da Profissão Contábil. Jornal do CRC-RJ. Março/Abril de 1999.

3. A Profissão do Futuro. Revista do CRC-PR, Nº

4. Metodologias no Ensino da Contabilidade. Revista do CRC-SP. Nº 8/99.

5. Bíblia Sagrada. Vozes. Petrópolis - RJ - 13ª Edição.



José Carlos Marion – Doutor e Livre Docente em Contabilidade pela FEA/USP. Pós Doutorado pela Kansas University – EUA. Professor na FEA/USF – BP, PUC-SP e UNIRP – RP.

OS DOIS LADOS DE UMA PROFISSÃO

Autores: Prof. Dr. José Carlos Marion (Prof. Titular da FEA/USP)
Prof. Márcia Carvalho dos Santos (Doutoranda em Controladoria FEA/USP)

Resumo
Em se tratando da profissão contábil, além de se ter emprego/trabalho praticamente garantido, as pesquisas mostram que a remuneração ou honorários são significativos, estando a frente de diversas outras profissões tidas como “nobres”. De maneira geral, há uma tendência de redução dos empregos diretos na agropecuária e indústrias, setores estes que caracterizaram-se como as melhores oportunidades neste século que termina. Fala-se que nos Estados Unidos, nos próximos dez anos, estes dois setores representarão não mais que dois por cento dos empregos daquela economia, ficando para o comércio e serviços o grande filão.

“Diante da atual situação econômica do país, de freqüentes oscilações, pode-se dizer que cresce a importância do profissional de contabilidade. Com base nos dados reais da empresa, o contador pode ser um parceiro importante nas decisões gerenciais.” Afirma o presidente do CRC de São Paulo.

Hoje, se espera que o contador esteja em constante evolução, além de uma série de atributos indispensáveis nas diversas especializações da profissão contábil. Não é mais possível, sobreviver no momento atual com aquela postura de escriturador, “guarda-livros”, “despachante” e atividades burocráticas.

Na verdade o que desejamos é mostrar que não basta conhecer o perfil desejado do profissional pelo mercado, mas sim buscar através de pesquisas alternativas para que tais habilidades possam ser desenvolvidas durante a graduação, ou pelo menos parte delas.

Introdução

Num sentido prático, a primeira maneira de avaliar as perspectivas de uma atividade profissional é saber se existem bons empregos nesta área. A remuneração também é um fator fundamental. Uma boa expectativa de retorno financeiro nos estimula a fazer investimentos mais relevantes na formação profissional.

Em se tratando da profissão contábil, além de se ter emprego/trabalho praticamente garantido, as pesquisas mostram que a remuneração ou honorários são significativos, estando a frente de diversas outras profissões tidas como “nobres”. De maneira geral, há uma tendência de redução dos empregos diretos na agropecuária e indústrias, setores estes que caracterizaram-se como as melhores oportunidades neste século que termina. Fala-se que nos Estados Unidos, nos próximos dez anos, estes dois setores representarão não mais que dois por cento dos empregos daquela economia, ficando para o comércio e serviços o grande filão.

Empresas prestadoras de serviços e comerciais já estão predominando nos grandes centros (São Paulo, Nova York, Londres etc.) abrindo constantemente oportunidades profissionais para, entre outros profissionais, contadores.

Por outro lado, as instalações de empresas de ponta em muitas regiões prósperas como a grande São Paulo vão substituindo as chamadas carcaças industriais que foram símbolos de pujança num passado bem recente. Estas empresas contratam os chamados “serviços ligados à produção” envolvendo engenharia, publicidade, informática, design, finanças, imprensa, contabilidade etc.

A queda nos empregos na indústria de transformação é notória em função de reestruturações, automações etc. Entretanto, o crescimento constante nos empregos em serviços ligados à produção (que buscam mão-de-obra qualificada e remuneram melhor) é inquestionável.

Na concepção de Echeverria (1999, p. 88):

“Nesse segmento empresarial privado, vejo o espaço para o profissional da Contabilidade, pois, ‘onde houver uma empresa, haverá um Contador. Seja na sua criação, ou no acompanhamento de seu desenvolvimento, a empresa obrigatoriamente contará com este profissional. Poderá atuar – ainda – como auditor (checando a saúde das empresas) ou em atividades voltadas à Contabilidade Administrativa”.

A própria história como ressalta Lopes Sá (1997, p. 15) “a contabilidade nasceu com a civilização e jamais deixará de existir em decorrência dela”.


Situação Atual da Profissão Contábil


Estamos diante de uma nova etapa na área contábil, ou seja, a fase mecânica cedeu lugar a fase técnica e esta está cedendo lugar a fase da “informação”. Sendo assim, fica evidente a queda nos empregos pelo fato de estarmos vivendo um momento de transição. Para Perez (1997, p. 68) o objetivo da profissão contábil:

“vai mais além de acumular cifras para preparar um balanço para efeitos impositivos. Vai mais além de registrar automaticamente uma ou várias operações: um software adequado pode produzir melhor as rotinas”.

Os profissionais contábeis são necessários a estes serviços ligados à produção (engenharia, informática, pesquisas, design ...), aos serviços ligados à distribuição (comércio), aos serviços sociais (educação, saúde, higiene, gastronomia, segurança ...) e outros.

Um campo novo de trabalho, também com muita perspectiva para o profissional contábil, é o chamado “terceiro setor”. São organizações privadas autônomas, normalmente sem a finalidade de distribuir lucro aos seus proprietários ou diretores, revertendo todo o lucro para a própria entidade buscando o bem estar da sociedade. Algumas vezes são chamadas, também, de Organizações Não Governamentais, ou Associações Culturais, ou Fundações Privadas, ou Entidades Sociais Organizadas etc.

Nos Estados Unidos os recursos gerados por estas instituições estão na ordem de US$ 660 bilhões por ano, representando um crescimento quatro vezes maior que as empresas que distribuem lucro aos acionistas. No Brasil, este setor, que está em estado embrionário, já representa dois por cento dos empregos. A maior multinacional brasileira hoje é considerada uma organização eclesiástica evangélica.

A preocupação em evitar fraudes nestas instituições e a exigência das organizações internacionais, como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, de parecer de auditorias reconhecidas para liberarem recursos para essas entidades, proporcionaram à Trevisan Auditores Independentes aumento da sua clientela em torno de 10%.

A responsabilidade social destas organizações (principalmente na prestação de contas, que é o ponto fundamental para a sua sobrevivência), a criação e a estruturação das fundações, os projetos e orçamentos de longo prazo, a captação de recursos, o controle e aplicação destes recursos, a controladoria destas instituições ... são alguns exemplos de atividades para o profissional contábil.

Em reportagem produzida pelo jornal O Globo , com base na pesquisa feita pela Ray & Bernedtson, empresa especializada na busca de executivos, a Contabilidade foi considerada uma das atividades profissionais mais promissoras nesta transição de séculos. No artigo “Prontos para o Trabalho do Futuro” é destacado onze profissões, que cada vez mais vem se destacando no mercado globalizado, entre elas a Contabilidade com um novo perfil (o novo contador deve dominar economia internacional e o processo de gestão de sua empresa, além de ter grande visão de negócio). Na visão de Andrade (2000, p. 61):

“As informações geradas pela contabilidade devem propiciar aos seus usuários base segura às suas decisões, pela compreensão do estado em que se encontra a Entidade, seu desempenho, sua evolução, riscos e oportunidades que oferece”.

Por repetidas vezes, temos também falado que a contabilidade é a única profissão que oferece um leque amplo de alternativas profissionais, permitindo mais de duas dezenas de opções de especialização. No entanto não é tão simples, de acordo com Mussolini (1994, p. 79):

“O contador deve se conscientizar de que a valorização se fundamenta, essencialmente, em dois pontos básicos: a) indiscutível capacidade técnica; e b) irrepreensível comportamento ético”.

Todavia, apesar das inúmeras vantagens, não existem milagres no processo de obtenção de sucesso profissional nesta área ou em qualquer atividade. Há necessidade do desenvolvimento equilibrado das “duas pernas” que permitem a realização profissional: a competência e a ética.


Competência e Habilidades


A evolução humana corresponde ao desenvolvimento de sua inteligência. Sendo assim poderíamos explanar um pouco a respeito antes de discutirmos sobre competência e habilidades.

Os seres humanos pré-históricos não conseguiam entender os fenômenos da natureza. Por este motivo, suas reações eram sempre de medo: tinham medo das tempestades e do desconhecido. Como não conseguiam compreender o que se passava diante deles, não lhes restavam outra alternativa senão o medo e o espanto daquilo que presenciavam.

Num segundo momento, a inteligência humana evoluiu do medo para a tentativa de explicação dos fenômenos através do pensamento mágico, das crenças e das superstições. Era, sem dúvida, uma evolução já que tentavam explicar o que viam. Assim, as tempestades podiam ser fruto de uma ira divina, a boa colheita da benevolência dos mitos, as desgraças ou as fortunas eram explicadas através da troca do humano com o mágico.

Como as explicações mágicas não bastavam para compreender os fenômenos os seres humanos finalmente evoluíram para a busca de respostas através de caminhos que pudessem ser comprovados. Desta forma, nasceu a ciência metódica, que procura sempre uma aproximação com a lógica.

O ser humano é o único animal da natureza com capacidade de pensar. Esta característica permite que os seres humanos sejam capazes de refletir sobre o significado de suas próprias experiências. Assim sendo, é capaz de novas descobertas e de transmiti-las a seus descendentes.

Hoje, se espera que o contador esteja em constante evolução, e além de uma série de atributos indispensáveis nas diversas especializações da profissão contábil. Não sendo mais possível, sobreviver no momento atual com aquela postura de escriturador, “guarda-livros”, “despachante” e atividades burocráticas de maneira geral.

Um profissional da área contábil é um agente de mudanças, e como tal este profissional deve mostrar suas diversas habilidades. O contador é o “anjo-da-guarda” de uma empresa, tornando-se seu profundo conhecedor, podendo desta forma atuar em sua continuidade e crescimento. Conforme Montaldo (1995, p. 32) o contador:

“deve desempenhar aqui um papel importante nas negociações inter-regionais, assessorando, pesquisando, trazendo informações e elementos que assegurem o fluxo de informação contínua, que leva a uma tomada de decisão racional, devendo oferecer um serviço socialmente útil e profissionalmente eficiente, que não seja apenas fruto da experiência e da formação universitária recebida, mas também de seu compromisso de incrementar e renovar constantemente o caudal de seus conhecimentos em prol da unidade regional”.

O contador deve se apresentar como um “tradutor”, e não simplesmente como um apurador de dados. Não basta elaborar os relatórios contábeis/financeiros, mas fazer com que os gestores consigam entender o que esses relatórios estão informando. Sob este aspecto, um tradutor é aquele que consegue interpretar as informações e adequá-las à tomada de decisão com eficiência e rapidez. O profissional contábil, neste contexto, deve estar mais preocupado com a utilidade, transparência, clareza, e objetividade das demonstrações contábeis para o usuário do que com a beleza intrínseca dessas demonstrações.

Dentro de uma empresa o contador é um “comunicador” em potencial, pois ele está em sintonia com todas as áreas, como por exemplo: produção, vendas, finanças etc. Nasi (1994, p. 5) cita que:

“o contador deve estar no centro e na liderança deste processo, pois, do contrário, seu lugar vai ser ocupado por outro profissional. O contador deve saber comunicar-se com as outras áreas da empresa. Para tanto, não pode ficar com os conhecimentos restritos aos temas contábeis e fiscais. O contador deve ter formação cultural acima da média, inteirando-se do que acontece ao seu redor, na sua comunidade, no seu Estado, no seu País e no mundo. O contador dever ter um comportamento ético-profissional inquestionável. O contador deve participar de eventos destinados à sua permanente atualização profissional. O contador deve estar consciente de sua responsabilidade social e profissional”.

Concordando com Nasi, acreditamos que seja importante o contador buscar e revelar as informações nas diversas atividades que compõem a empresa, neste momento o profissional contábil está se passando por um “repórter”. A função de um repórter é a busca de informações importantes, tratar estas informações sem distorcê-las e repassá-las fidedignamente, o mais breve possível. Neste aspecto, o profissional contábil desempenha papel semelhante.

Se o profissional contábil consegue deter informações vitais sobre a situação das empresas, poderia este profissional desempenhar a função de Controller. Um exemplo recente desta habilidade é percebido na prefeitura do município do Rio de Janeiro. O Controlador Geral, é um cargo de confiança, e como tal não é ocupado por funcionário do quadro técnico, porém, até o presente momento tem sido ocupado profissionais contadores.

A vantagem de deter informações imprescindíveis é a possibilidade de poder planejar, simular e criar diversas alternativas, as quais possibilitem a empresa atingir a sua meta, alcançando o sucesso.

Pensando bem, quem detém o controle de informações tem condições de avaliar, dentre diversas alternativas, a que poderá levar a empresa ao sucesso desejado. O objetivo, neste momento, é mostrar o profissional contábil atuando como um “avaliador”. Porém, este profissional estará atuando, também, como “consultor”. Quando os dirigentes, governo, clientes, banco etc., desejam alguma informação esta é obtida do profissional contábil.

Nas empresas, em algumas situações, há a necessidade de se fazer alterações nos sistemas contábeis/financeiros, de forma a obter informações mais precisas ou mesmo corrigir alguns desvios, os quais são percebidos após a implantação do sistema. Nestes casos, quem atua juntamente com os analistas de maneira a auxiliar e agilizar as alterações é o contador. Porém, é muito comum, também, encontrarmos o contador no papel de analista, desenvolvendo sistemas no intuito de otimizar o processo de contabilização bem como a obtenção mais rápida de dados e informações contábeis. Então, parece ser possível a existência de um contador “designer”.

Talvez, possa parecer um pouco de exagero as habilidades citadas, mas são fáceis de serem percebidas pelos que acompanham os diversos artigos que são publicados em revistas, jornais, debate, em palestras, congressos e seminários. Enfim, são muitos os que falam a respeito do crescimento da área contábil e as perspectivas da profissão.

São alguns poucos exemplos de habilidades destacadas para o exercício da profissão contábil. Seria impossível elencá-las todas.

Dentro da vocação e amplitude da visão de cada um poder-se-ia falar de muitas outras habilidades. Ressaltamos, por último, uma habilidade que deve estar presente como suporte das citadas anteriormente, que é a de “pesquisador”. Esta habilidade é essencial para o crescimento e aprimoramento do profissional contábil.

Em artigo de Otaviano Canuto publicado no jornal O Estado de São Paulo - Quanto custa uma reputação? – o autor critica a Contabilidade tradicional que não reconhece gastos com P&D como Ativo (Investimentos) prejudicando, inclusive o cálculo do PIB, não destacando os Ativos Intangíveis provocando a supervalorização acionária. Assuntos como este tem que despertar na classe contábil um desejo profundo de pesquisa, da busca da verdade, de debates que só aqueles profissionais habilitados e competentes poderão fazê-lo.


Desenvolvimento de Habilidades


São perfeitamente admissíveis e interessantes as habilidades elencadas anteriormente. O melhor é que são estas habilidades que as empresas esperam encontrar nos profissionais que contratam, todavia será possível encontrarmos, atualmente, um recém formado com pelo menos 30% das habilidades citadas? Se a resposta for talvez ou não, temos outra indagação: por que os recém formados não possuem tais habilidades?

A resposta para os questionamentos anteriores é muito óbvia, ou seja, está faltando comunicação entre as Instituições de Ensino e o Mercado de Trabalho. Não há como desenvolver habilidade de comunicador ou intérprete se os alunos, simplesmente, continuam estudando português na faculdade como “recordar é viver”. Estamos necessitando com urgência de atualização nas grades curriculares, no intuito de atualizar a ementa e a metodologia aplicadas em algumas disciplinas e inserir novas disciplinas, que permitam aos alunos se adequarem às novas tendências do mercado de trabalho.

No entanto, temos um outro aspecto a ser observado que é a interdisciplinaridade. Infelizmente, muitas vezes percebemos que os alunos são estimulados para o desenvolvimento de alguns itens fundamentais para o desenvolvimento das habilidades citadas, o que ocorre exatamente é a falta de elos entre estes itens, ou seja, a interdisciplinaridade.

Por exemplo, a disciplina Português ou como algumas Instituições denominam “Português Instrumental”, deveria ter como meta estimular e desenvolver no aluno a habilidade de expor as idéias de forma coerente em um texto. Uma deficiência nessa área torna-se um problema real na hora de confeccionar um relatório ou expor a situação contábil da empresa em uma reunião. É importante também desenvolver habilidade na elaboração de análises descritivas. É muito comum alunos ao cursarem a disciplina Análise das Demonstrações Financeiras desenvolverem os cálculos perfeitamente, entretanto não conseguem expressar o que refletem aqueles valores através de análises descritivas.

Como abordado, anteriormente, um profissional contábil deve ser um comunicador em potencial, e todos nós sabemos que para desenvolver tal habilidade há necessidade de inserir na grade disciplinas como marketing, cultura organizacional com o objetivo de desenvolver nos discentes uma postura mais forte, ser mais crítico, impor suas opiniões, pois é notório o inverso, ou seja, ainda encontramos profissionais e estudantes com uma postura retraída, quieta e submissa. Todavia, no mercado não há mais espaço para profissionais com tal postura.

Na verdade o que desejamos é mostrar que não basta conhecer o perfil desejado do profissional pelo mercado, mas sim buscar através de pesquisas alternativas para que tais habilidades possam ser desenvolvidas durante a graduação, ou pelo menos, parte delas.


Postura Ética


A profissão contábil, assim como qualquer outra, é exercida na combinação da competência com a ética. Ou melhor, é o exercício da competência conduzida pela ética. A competência é fazer aquilo que é certo. A ética exige que seja feito de forma correta, consistente com boa reputação da profissão.

Em nosso artigo “O Contabilista, a Ética e a Bíblia” destacamos que de todas as profissões, o profissional contábil é o que mais está sujeito a partilhar de esquemas espúrios já que sua atividade está intimamente ligada com repórter de dados, cifras, apuração de resultado, e, consequentemente, exibe dados que geram montantes referentes a impostos, taxas, dividendos, encargos, valor patrimonial da ação, lucro etc.

Há empresas que estão preocupadas em reduzir seus custos e desembolsos através de um planejamento tributário, de um orçamento operacional, de uma cuidadosa política de dividendos, de modernas técnicas de controles internos (no sentido de evitar desperdícios) e de outros instrumentos eficazes e sadios que proporcionam economias para as mesmas e benefícios para a nação.

Ninguém melhor que o profissional contábil, portador de conhecimentos na área fiscal, previdenciária, de custos, de auditoria, de orçamento e mesmo de outras áreas afins à contábil e de diversas habilidades, para coordenar e orientar este tipo de trabalho, bem como acompanhar este planejamento empresarial, comparando os dados reais registrados pela contabilidade com aquilo que foi planejado.

Entendemos que o profissional contábil deva ser o arquiteto principal da organização deste sistema que, em última análise, reduz o preço final do bem ou serviço que será consumido pela população, trazendo benefícios não só à empresa, como também a toda coletividade e a própria Balança Comercial através de produtos mais competitivos no mercado externo.

Por outro lado, há empresas que, achando-se vítima de uma carga tributária e previdenciária excessivamente onerosas, e até mesmo justificando-se em circunstância do elevado ônus financeiro imposto pelos bancos emprestadores de recursos e outros motivos, julgam-se no direito de reduzir os seus encargos e consequentemente seus desembolsos, através de omissão de dados contábeis, subtraindo fraudulentamente montantes devidos ao fisco ou a terceiros, procedimentos estes que levam à sonegação, fraudes, evasão fiscal etc.

Dessas empresas, há ainda aquelas que além de eximir-se à legislação tributária, vão mais longe e inescrupulosamente oprimem seus empregados a situações constrangedoras como a omissão dos registros legais, descontos indevidos na folha de pagamento, omissão nos recolhimentos dos encargos sociais, remuneração indigna, demissões fúteis etc.

Tais lesões não param apenas nas áreas fiscais e trabalhistas, mas outros segmentos são atingidos por este tipo de empresário, trazendo enormes prejuízos às diversas camadas sociais. Sem dúvida a impunidade de tais atos tem sido um estímulo sem limite para tais práticas em nosso país.

Todavia, nesta oportunidade, não queremos nos deter meramente no julgamento da conduta destes empresários. Queremos sim analisar o comportamento de profissionais vinculados a este tipo de empresa, de certa forma, embora muitas vezes involuntariamente, compartilhando deste esquema degenerado e nocivo para a maioria.

Quando os cursos de Contabilidade enfatizam somente a competência, esquecendo o lado ético, humano, religioso ... formam um profissional “manco” (só a perna da competência desenvolveu-se) proporcionando, quem sabe, um excelente profissional, mas um péssimo homem.

Poucas profissões se expõem tanto à corrupção quanto a Contabilidade. Ao mesmo tempo que estamos tão ameaçados à sedução da corrupção, formamos os agentes que combatem ou contribuem decisivamente no processo de evitar a corrupção: auditores, investigadores de fraudes contábeis, peritos contábeis etc.

É provado em países onde a relação auditores externos/número de habitantes é maior, a corrupção é pequena (Holanda, Inglaterra, EUA ...). Por outro lado, em países como o Brasil, onde o número de auditores externos é irrelevante, a corrupção está livre para expansão sem limite.

De maneira geral, o profissional contábil gerencia todo o sistema de informação, os bancos de dados que propiciam tomada de decisões tanto dos usuários internos como os externos. Toda sociedade espera transparência dos Informes Contábeis, resultados não só de competência profissional, mas, simultaneamente, de postura ética.

Novamente, voltamos ao mesmo discurso: como estamos formando os futuros profissionais? – Não estariam as faculdades, através dos seus docentes adestrando os discentes com aulas, onde eles decoram os artigos constantes do código de ética do conselho.

Voltamos ao mesmo ponto, é necessário um aprimoramento do conteúdo da disciplina ética, com o objetivo de evitarmos um profissional perneta.

Estudar o código de ética é fundamental, mas antes é primordial que o discente esteja consciente não apenas dos conceitos acerca da moral, crenças, costume, sigilo entre outras, como também tenha dentro de si internalizado estes conceitos. Só assim, o discente estará apto a entender o código de ética e aplicá-lo sem decorar seus artigos. A ética fluirá naturalmente, devido a conscientização desenvolvida na forma como a disciplina foi ministrada.

Todo este discurso baseia-se na tentativa de nos alertarmos para as novas tendências do mercado, sem achar que basta criar uma disciplina chamada, por exemplo, política de negócios e acreditarmos que estamos preparando o nosso discente dentro das exigências do mercado atual. Torna-se cada vez mais premente a pesquisa de novas metodologias de ensino e avaliação, com a finalidade de atender a demanda deste mercado de trabalho globalizado.

Devemos buscar o reconhecimento do profissional contábil pelo valor que ele adiciona a empresa.


Conclusão


Os dois lados da profissão contábil poderiam ser vistos:

a) Como lado bom, as oportunidades de mercado (com desemprego praticamente igual a zero, novos campos se abrindo e as diversas alternativas na condição de autônomo ou empresário) e retorno financeiro relevante em relação a média das profissões.

b) Como lado ruim é o quanto se está exposto às seduções espúrias do mercado. Nenhuma profissão está tão sujeita quanto esta à corrupção. De maneira geral não se percebe uma preocupação das Instituições de Ensino e outros segmentos de uma melhor preparação dos profissionais no que tange ao lado ético, o lado humano, o espiritual.

Em relação à competência, é notório, para todas as profissões, que não basta apenas um curso superior, dominar as disciplinas ministradas no curso de Contabilidade ou estar preso aos processos convencionais de ensino e aprendizagem. Há necessidade de se ir mais longe, de sair do tradicional e lembrar o antigo ensinamento: “quem pouco plantou, pouco colheu”.

Em relação à ética é fundamental o estudo constante do nosso excelente código de ética. É necessário ainda a busca de valores mais elevados, de princípios cristãos que norteiam a formação de homens e mulheres munindo-os de dignidade, de transparência e de honestidade.


Bibliografia


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MONTALDO, Oscar. A Realidade Econômica Internacional e a Profissão Contábil. Revista Brasileira de Contabilidade. Brasília. Ano 24, nº 92. Mar/Abr 1995.

MUSSOLINI, Luiz Fernando. A Função Social da Contabilidade. Revista Brasileira de Contabilidade. Brasília. Ano 23, nº 89. Nov/Dez 1994.

NASI, Antônio Carlos. A Contabilidade como Instrumento de Informação, Decisão e Controle da Gestão. Revista Brasileira de Contabilidade. Brasília. Ano 23, nº 77. Abr/Jun 1994.

PEREZ, Antônio Castilla. A Profissão Contábil e o Futuro. Revista Brasileira de Contabilidade. Brasília. Ano 26, nº 103. Jan/Fev 1997.

SÁ, Antônio Lopes de. História Geral e das Doutrinas da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 1997.

Preparando-se para a Profissão do Futuro

Talvez, se chamasse este texto de profissão do futuro, um leitor que não é da área contábil poderia discordar dele e até não lê-lo. Ele poderia indagar que essa profissão é uma das mais antigas que existe; poderia dizer que estereótipo da imagem desse profissional em nossa sociedade não é o melhor possível (aparentemente não muito criativo, talvez um pouco tímido e, em alguns casos extremos, até com suspeita de ausência de idoneidade profissional). A despeito de qualquer juízo já concebido, rogaria ao leitor que lesse este artigo até o fim e fizesse um novo juízo, não olhando basicamente o momento que vivemos mas projetando uma nova realidade que é emergente, inquestionável e irreversível.

Os historiadores dizem que a Contabilidade já existia há pelo menos quatro mil anos a. C. Eu diria que ela existe desde o início da civilização humana, pois, se a Contabilidade mensura riqueza e o homem (a razão da existência dessa ciência) é ambicioso por natureza, ainda que de modo muito precário, ela acompanha esse homem ambicioso desde o princípio. Veja casos na Bíblia, como os de Jó, Jacó e outros, que tiveram a sua riqueza avaliada, bem como a variação dessa riqueza.

Considerando o fim da escrituração tradicional em função dos meios eletrônicos; as críticas que o profissional contábil sofreu temporariamente em função dos escândalos dos bancos Econômico e Nacional ; e o estereótipo, superficialmente abordado desse profissional, parece loucura iniciar este artigo com o título tremendamente ousado: " preparando-se para a profissão do futuro”. Todavia, navegue comigo nessa aventura de descobrir algumas facetas muitas vezes ocultas dessa profissão.

Em primeiro lugar, precisamos entender que a imagem dessa profissão no Brasil ou em países subdesenvolvidos (ou em desenvolvimento) está muito aquém que nos países desenvolvidos. A certificação do contador na Inglaterra é dada pela rainha. Nos Estados Unidos, se você perguntar qual a vocação que alguém quer para seu filho, aparecem as profissões de médico, advogado e contador. Em alguns estados americanos o contador é o mais bem remunerado entre as profissões liberais. Lá, os auditores são uma classe privilegiada, ganham uma fortuna, jogam golfe e são muito respeitados. Isto acontece em outros países desenvolvidos.

No momento, no Brasil, não vivemos esses privilégios. Mas, na verdade, eles estão chegando e dentro de muito pouco tempo surpreenderão a muitos. Em meu livro Contabilidade Empresarial, publicado pela Editora Atlas SA, inicio dizendo que, ao contrário de outras profissões, a Contabilidade oferece um leque de pelo menos dez alternativas diferentes de exercício profissional. Farei menção de algumas dessas alternativas.

Na verdade, na área de negócios a linguagem universal é a Contabilidade. Assim, como muitas pessoas querem aprender inglês como um idioma internacional para se comunicar, é mister se conhecer a Contabilidade para se comunicar no mundo dos negócios.

Temos hoje um pouco mais de 100.000 contadores registrados em Conselhos Regionais em todo o país (os Estados Unidos formam 50.000 novos contadores a cada ano). Considerando que nosso universo de empresas chega a quase 4,5 milhões, podemos obter um quociente de um profissional habilitado para cada 45 empresas. Em sentido meramente algébrico, cada contador que se forma teria 45 empresas aguardando seus serviços.

Poderíamos argumentar que o contador enfrentaria a concorrência dos técnicos em contabilidade (em torno de 220.000) e dos escritórios de Contabilidade; que o Imposto de Renda dispensa grande parte das empresas de fazer Contabilidade e que poucos estariam interessados em fazer os relatórios contábeis. A resposta é muito simples:.as empresas estão percebendo que, sem uma boa Contabilidade, não há dados para a tomada de decisão numa economia que a cada dia exige mais competência e competição; que os técnicos e escritórios de maneira geral estão mais voltados para a avalancha de guias fiscais, legais, não tendo aptidão, salvo algumas exceções, de enfatizar primordialmente os relatórios para a tomada de decisões; que a empresa precisa de profissionais que ajudem no processo decisório, interpretando as informações e não " de serviços de despachantes contábeis" ou, exclusivamente, escrituradores (passando essa tarefa para o computador); que a dispensa da escrituração contábil pelo Imposto de Renda (ausência dessa escrituração contábil formal facilita o ilícito fiscal) é uma faca de dois gumes, pois, sem controle, não há saúde financeira. Assim, o contador, em sua nova função, tem muito espaço pela frente, como o "médico de empresas".

Não se admite hoje uma empresa, independentemente de seu tamanho (até mesmo a microempresa), sem custos. Na época de inflação alta, toda a ineficiência e incompetência eram jogadas no preço. Hoje, com estabilidade monetária, a margem de lucro reduziu sensivelmente e só com uma boa administração de custo se pode pensar em sobrevivência. Assim, a Contabilidade Financeira, a de Custos e a Gerencial têm, mais do que nunca, um espaço garantido. Sem uma boa Contabilidade, a empresa é como um barco em alto mar, sem bússola, à mercê dos ventos, quase sem chance de sobrevivência, totalmente à deriva.

Holland (1) divide a carreira de contabilista em três níveis: Nível I - Técnicos em Contabilidade e assistentes de contador; Nível II - Contador geral, contador de custos e auditor; Nível III - Contador gerencial e executivo em Auditoria. Para o autor citado, no Nível III, a remuneração é bem acima de R$ 100.000 anuais.

Dentro da Contabilidade Financeira, as especializações, como Contabilidade Rural, Contabilidade Hospitalar, Contabilidade Imobiliária etc. e os "casamentos" Contabilidade e Informática, Contabilidade e Direito Tributário etc., são excelentes opções para essa mudança de milênio.

E quanto ao auditor? Segundo o professor e contador Stephen Charles Kanitz, não existe corrupção no Brasil. O país ressente-se, isto sim, da falta de auditores e de auditoria. Somos talvez o país menos auditado do mundo. Por exemplo, existe aqui um auditor independente para cada grupo de 25.000 habitantes. Na Holanda, há um auditor independente para cada 900 habitantes; na Grã-Bretanha, um para cada 1.300 habitantes; nos Estados Unidos, um para cada 2.300. Quase todas as empresas nos países desenvolvidos são auditadas. No Brasil, somente 3.000 empresas (das quase 4,5 milhões existentes) estão sujeitas a auditoria obrigatória. Já existem projetos para mudar este quadro e, certamente, antes da virada do século teremos muitas empresas procurando auditores externos. A nova proposta da Lei das Sociedades por Ações obriga para todas as grandes empresas, independentemente do tipo societário, a serem submetidas a auditoria externa. Certamente, ainda neste século, haverá uma grande demanda por esse profissional.

Por outro lado, a auditoria interna, que, segundo o Conselho Federal de Contabilidade (2), é a opção de 9% dos contadores brasileiros, cresce assustadoramente, principalmente na área de auditoria de gestão, em que se examina o desempenho administrativo dos gestores da empresa.

Nunca foram vistas tantas causas judiciais envolvendo empresas no Brasil como no momento. Quase todos os processos requerem a pessoa do perito contábil, que, assim como o auditor, é de competência exclusiva do contador. Com a terceirização, as empresas buscam os consultores contábeis (em diversas áreas de especialização) que substituem com vantagens o empregado permanente. Em recente divulgação do Sebrae (3), 70% das pequenas e microempresas que entram em contato com a instituição para a obtenção de crédito, não dispõem de condições para receber financiamento, necessitando de consultoria contábil para reduzir seus custos financeiros. O analista financeiro (de mercado de capitais, de crédito e de desempenho da empresa) é cada vez mais procurado no mercado. Bolsa de Valores é melhor negócio dos últimos 20 anos.

Para preparar essa demanda enorme de contadores, são necessários docentes e pesquisadores. E aqui encontramos grandes nichos no mercado. Temos hoje apenas 250 mestres em Contabilidade enquanto os Estados Unidos formam 6.000 a cada ano. Temos só 55 doutores (para mais de 330 cursos supeirores de Contabilidade), enquanto os americanos formam 220 novos doutores por ano, não conseguindo, assim mesmo, atender a sua demanda. Os livros didáticos estão nas mãos de menos de meia dúzia de autores e atendem mais de 90% das instituições de ensino. Revistas e boletins são raríssimos pela escassez de autores. Há verbas disponíveis para pesquisas contábeis, porém são “moscas brancas” os pesquisadores. Muitas universidades querem introduzir mestrados e doutorados (com bons salários), mas não há ofertas de docentes e pesquisadores no mercado. Praticamente, não há autores, docentes de carreira e pesquisadores disponíveis. A demanda por docentes titulados e pesquisadores tem-se intensificado após a iniciativa do Provão, a ponto de existir instituição de ensino superior que propõe remuneração ao docente doutor de cinco aulas por cada aula dada.

Os dados estatísticos mostram que os graduados em Contabilidade têm um índice maior de aproveitamento nos concursos públicos em áreas afins que outros graduados. Muitos concursos vêm por aí. Em 1970, o Brasil tinha 20.000 fiscais na Receita Federal. Hoje, fala-se em 5.500 para controlar todas as fronteiras, litoral, aeroportos e portos, milhões de empresas e 30 milhões de contribuintes. Diversas áreas estão nessa situação no setor público. Não bastasse tudo isto, é notório o desempenho do contador em cargo administrativo, pois é homem que normalmente mais conhece a empresa.

Outros aspectos interessantes da perspectiva profissional nessa área poderiam ser abordados. Todavia, analisando a História, chegamos à Era da Informação, e do Conhecimento. Começamos com uma sociedade primitiva (caça e pesca), passamos para uma sociedade agrícola e há 250 anos atingimos a sociedade industrial que parecia ficar para sempre. Não aconteceu. Vemos uma revolução na sociedade que concentra sua atenção em um novo recurso que é a informação. A Contabilidade, por excelência, é uma ciência de informação.

Temos hoje 330 cursos superiores de Ciências Contábeis no Brasil. Há em torno de 250 processos (pedidos de instituição de ensino superior) solicitando abertura de novos cursos de Contabilidade no MEC. Isto mostra que os "empresários" do ensino superior visualizam um futuro promissor para a profissão contábil.

Por outro lado, novas perspectivas profissionais vão surgindo, como, por exemplo, a de Investigador Contábil (profissional que investiga fraudes, o lado podre das empresas), a Contabilidade Ecológica, a Auditoria Ambiental, a Contabilidade Estratégica, a Contabilidade Prospectiva (voltada para cenários e procedimentos futuros), o empresário contábil com um novo perfil etc

Em pesquisa recente (4) que revela o perfil do fraudador nas empresas, detecta-se que 43% fraudam por apropriação indébita, sendo que Caixas, Bancos e Estoques são os itens mais visados. As empresas norte-americanas perdem cerca de US$ 9,00 por dia devido a fraudes. Esse tipo de ação ilícita consome dezenas de bilhões de dólares por ano naquele país. As perdas das empresas podem chegar até 6% de seu faturamento com fraudes. Por aí, é possível ter uma idéia do campo de trabalho para o Investigador Contábil, área ainda quase inexplorada pela profissão. Nos Estados Unidos e Europa, é rotina fazer o trabalho de investigação contábil duas vezes por ano; portanto, essa especialização profissional é bastante conhecida. No Brasil, temos ainda menos de 30 profissionais nessa área, com a remuneração em torno de R$ 100,00 por hora

O Novo Perfil do Profissional Contábil

Diante deste quadro sensivelmente favorável, alguns aspectos preponderantes deveriam ser considerados no planejamento profissional. É comum ouvir dizer hoje que 1) o emprego duradouro está perto do fim; 2) fala-se muito, dentro da profissão contábil, sobre administração de conflitos (em poucas profissões vamos encontrar tantos conflitos como na de contador), sobre inteligência emocional, isto é, saber lidar com emoções, empatia, facilidade em se relacionar com outras pessoas.

Neste segundo enfoque, saber lidar com pressões, frustrações, ser integrado e, principalmente, saber criar empatia com os outros, evitando julgamentos críticos baseados em sensações e não em fatos, alavancam a carreira de qualquer pessoa, em qualquer área de atuação. Investir na inteligência emocional é indispensável no mundo moderno.

No que tange à nova tendência do fim do emprego duradouro, o profissional contábil é levado a administrar sua própria carreira. Requer o fato de estar atento para as oportunidades de mercado, descobrir os nichos existentes e investir em marketing pessoal (muito mal cuidado, diga-se de passagem, pelos profissionais contábeis).


O emprego assalariado no Brasil está acabando. Até 1980 (5), de cada 10 ocupações criadas pelo mercado de trabalho, oito eram assalariadas (sendo sete com registro em carteira e uma sem registro). As outras duas eram de trabalho por conta própria, incluindo os sem-remuneração e os empregadores. De 1989 a 1995, de cada 10 novas ocupações, duas eram assalariadas, e oito não assalariadas (cinco por conta própria e três sem remuneração). Essa tendência de redução do trabalho assalariado com registro é ainda mais acentuada na profissão contábil.

A idéia de "empregabilidade" é transformar cada profissional em administrador da própria carreira. Em certo sentido é o fim dos compromissos com a empresa e o início das responsabilidades com a administração pessoal de sua carreira. Assim, cada profissional se transforma em uma empresa e passa a administrar a própria profissão como um produto que precisa ser vendido no mercado.

De certa maneira, o empresário contábil, aquele que presta serviços para terceiros por meio de uma infra-estrutura pessoal ou de um escritório, já vem fazendo isto: sai de cena o patrão único e surgem diversos clientes. Entendemos, todavia, que, de maneira geral, isto tem sido feito de forma amadorística, sem investimento em marketing para garantir uma "boa marca ".

A Marca do Profissional

Pode-se dizer que as empresas estão constantemente diante de inúmeros desafios e que há necessidade de muita competência, habiilidade, marketing pessoal e criatividade do profissional contábil para superar as expectativas do cliente.

Para melhorar o marketing pessoal dever-se-ia pensar em ser executivo-chefe de si mesmo. Nós, pessoas físicas, somos uma empresa e precisamos ter nossa marca. Precisamos de marketing pessoal para fazer negócios. Como agentes livres que a profissão e a economia nos proporciona, temos chances de nos destacar, ter uma marca registrada.

Não são só os produtos que se vendem pela marca. Quando você tem um caso grave de saúde, procura um médico de marca; na área jurídica busca um advogado de marca; para uma auditoria ou avaliação de uma empresa, um nome conhecido é indispensável. É interessante que o patrimônio físico, o ativo tangível, parece já não ter peso como alguns anos atrás, surgindo o intangível, principalmente a marca, como ponto fundamental.

É preciso definir exatamente a área de acão, a especialidade, criar uma mensagem e uma estratégia para promover a marca pessoal. Destacar cuidadosamente o que o seu serviço se diferencia dos outros. A marca deve encantar o cliente. Deve ficar claro qual o benefício que se trará para o cliente. O prestador de serviço deverá acrescentar valor mensurável para seu cliente. As pessoas deverão elogiar o profissional, e o marketing boca a boca estará iniciado.

No que tange à Contabilidade, pode-se dizer que ela só é útil se acrescentar valor, se seu benefício for mais representativo que o custo de fazê-la. Assim, a prestação de seviços fiscais, aspectos burocráticos como fim, nunca acrescentarão valor. Deixe que os menos ambiciosos façam isto.

Dar aulas, palestras, escrever em jornais da região, participar de debates, ter uma "home page" na Internet, ter logotipo moderno em seu cartão, alimentar redes de amigos influentes, ter um bip, usar seu poder de influência podem, entre outras coisas, ser fundamental para se construir o marketing pessoal.

Tom Peters (6) faz algumas perguntas interessantes para que você avalie sua marca: "Você sempre entrega o trabalho dentro do prazo? Seu cliente interno ou externo recebe um atendimento confiável que satisfaz as suas necessidades estratégicas? Você antecipa e resolve os problemas antes que eles se transformem em crises? Seu cliente poupa dinheiro e dor-de-cabeça pelo simples fato de contar com você na equipe? Você sempre completa seus projetos dentro do orçamento previsto? (não sei de nenhum cliente de uma firma de serviços profissionais que não vire uma fera quando os custos excedem o orçamento previsto) ". Eu ainda acrescentaria uma pergunta: "seu cliente acha você ético?"



Quando há "solidariedade" de qualquer profissional num processo espúrio, como por exemplo a sonegação, parece que o prestador de serviço está agradando o cliente. Mas saiba que o cliente, até mesmo inconscientemente, tem uma imagem ruim desse profissional. Imagine aquela prática antiga (felizmente, parece que já não existe mais) em que um funcionário público era subornado para desembaraçar um documento, ou adiantar um papel emperrado na burocracia. Os beneficiados estimulavam essa atitude, mas, certamente, não a aplaudiam. Será que o beneficiado faria uma parceria empresarial com esse funcionário? Certamente, não. Ninguém gosta dessas atitudes, nem mesmos os beneficiados. A marca fica comprometida em atitudes desse tipo.

Foco no Cliente

Por outro lado, parece que, de maneira geral, os profissionais contábeis brasileiros têm dificuldade em adaptar-se a "era do cliente". Os slogans "o cliente em primeiro lugar" ou "o cliente sempre tem razão" ou "o cliente satisfeito sempre está disposto a nos remunerar melhor" ou "o usuário (cliente) da Contabilidade é a pessoa mais importante no mundo contábil" ainda não têm causado a ressonância desejada na classe contábil brasileira.

Algumas perguntas podem direcionar-nos para a conclusão de que, geralmente, os profissionais contábeis, principalmente os voltados para micros, pequenas e médias empresas, não têm centrado sua prestação de serviços no principal usuário da Contabilidade, ou seja, o administrador, o gerente, o sócio-gerente que administra seu negócio:

- A prestação de serviço contábil tem sido totalmente voltada para o cliente (customer-driver), o principal gestor, a pessoa que toma decisão na empresa?

- O profissional contábil ou a empresa que presta serviços de Contabilidade faz regularmente pesquisas de opinião com o principal cliente (usuário da Contabilidade), exatamente aquele que remunera a prestação de serviços?

- Esse profissional ou empresa tem uma forma especial de ser ou de pensar que propicia a definição de cada iniciativa de acordo com a vontade do cliente?

- Na definição da hierarquia dos usuários, o prestador de serviço contábil tem absoluta certeza de que os poderes dominantes (governo, fisco, instituições financeiras ...) não podem influenciar na qualidade das demonstrações contábeis que servirão de base para o principal cliente da Contabilidade?

- Em função dos padrões modernos e das exigências do principal usuário da Contabilidade, o prestador de serviço contábil está disposto a passar por uma mudança fundamental de crenças e valores em sua cultura?

- A universidade (considerando o curso de Ciências Contábeis) tem pesquisado em sua região o perfil ideal de profissionais a serem formados considerando a demanda, os anseios do principal cliente da Contabilidade?

- Essa mesma universidade tem reavaliado o currículo e/ou curso em relação ao feedback obtido junto dos egressos (ex-alunos) e aos usuários dos serviços contábeis desses egressos?

- O prestador de serviço contábil é um aliado no sucesso de seu cliente: ajuda-o na redução de custos, no melhor perfil de endividamento, nos avanços tecnológicos, no encurtamento do ciclo de produção, no aumento da qualidade, rentabilidade, na fatia de mercado? Esse prestador de serviços tem-se reunido com o cliente para tratar desses assuntos ?

Se a maioria das respostas for "sim", há tendência em focalizar o principal usuário da Contabilidade (o cliente).

Em recente pesquisa feita pelo Conselho Federal de Contabilidade em 1995/1996 (2), apenas 1,98% dos contadores está interessada de forma direta em contribuir para o crescimento dos clientes.


Qualquer tipo de serviço que não acrescentar valor e/ou satisfação ao cliente não perdurará nos dias de hoje. De maneira geral, serviços excessivamente voltados para a escrituração, ênfase fiscal, serviços burocráticos etc, não agregam valor, não aumentam riqueza do cliente e, consequentemente, não podem trazer satisfação. A Contabilidade é um processo para servir e satisfazer ao cliente e não para a satisfação do criador ou idealizador de métodos contábeis.

Geralmente, parece que, em termos de cultura brasileira, não se levam muito a sério as necessidades do cliente. Como exemplo podemos citar a seguinte afirmação : "No Brasil, o empreendedor olha para o próprio umbigo ao escolher onde investir seu dinheiro: o que eu sei fazer, o que eu vou vender, o quanto eu posso ganhar. Desde a década de 60, a maioria das inovações mercadológicas americanas obedece um parâmetro básico: uma necessidade desatendida do consumidor. Novos produtos e serviços, portanto, estão quase sempre ligados ao esforço de satisfazer demandas, desejos e caprichos do cliente. É nisso que o empreendedor americano pensa ao perscrutar oportunidades de mercado "(7).

Diversas situações poderiam aqui ser destacadas sobre como no Brasil se tem maltratado o consumidor. Uma grande empresa automobilística manteve por quase 40 anos, sem praticamente nenhuma alteração, a sua perua Van, sendo que as famílias grandes, ainda que tivessem poder aquisitivo para adquirir um automóvel maior, amargaram um transporte próprio de quinta categoria (que chamar de carroça, como o ex-presidente Collor fez, era um elogio !). Se se quiser tomar um táxi para um aeroporto de uma cidade satélite (como é o caso de Guarulhos), o passageiro precisa pagar quase o dobro, pois o taxista não pode pegar passageiro para o retorno (que "se dane" o consumidor, o importante são as regras imbecis !). Por outro lado, as Vans americanas e japonesas são veículos extremamente confortáveis e modernos, a um preço bastante baixo. Uma Limosine do aeroporto JFK até o centro da cidade vizinha, New York, é muito mais barata que um táxi de São Paulo a Guarulhos.

Esses são exemplos típicos do desprezo ao consumidor. Poderíamos dizer que a Contabilidade brasileira também tem maltratado seus usuários (clientes)? Normalmente, sim e, se não mudarmos o foco para o cliente principal, nossa imagem, marca, sucesso ficarão comprometidos. A profissão do futuro está diretamente ligada à solução dos problema dos consumidores. Para isto, é necessário ouvir o cliente, comportamento este que, como regra geral, a classe dos contabilistas não tem tido. Creio existirem algumas explicações para isto.

O berço da Contabilidade é a Itália. No século XV, o cenário mundial da Contabilidade era a Itália. Praticamente, durante quatro séculos, esse país foi o grande formador da doutrina contábil, perdendo a primazia para os norte-americanos nos primórdios deste século.

Se há um fator preponderante na mudança do cenário mundial da Contabilidade da Itália para os Estados Unidos, certamente, este fator foi o foco no cliente, no usuário principal da Contabilidade.

Enquanto na Itália havia exagerado culto à personalidade, ou seja, aos grandes teóricos da Contabilidade, nos Estados Unidos o usuário era consultado, sendo proporcionado a ele a manifestação de seus anseios em relação às informações contábeis. Essa manifestação dos usuários estimulava o desenvolvimento da Contabilidade Gerencial, que se contrapunha à ênfase teórica dos italianos.

Quando o foco está nos grandes estudiosos (gênios) da Contabilidade, a Auditoria tem papel secundário. Todavia, quando o usuário é o centro das atenções, a Auditoria desenvolve-se, ganha papel proeminente. Auditoria continua sendo a ênfase maior no cenário mundial da Contabilidade, que são os Estados Unidos.

Este novo cenário mundial da Contabilidade coloca como objetivo principal da Contabilidade propiciar ao usuário avaliar a situação econômica e financeira da entidade, em sentido estático, bem como fazer inferências sobre a tendência futura. A Estrutura Conceitual Básica da Contabilidade (8) afirma que "os objetivos da Contabilidade, pois, devem ser aderentes, de alguma forma explícita ou implícita, àquilo que o usuário considera como elementos importantes para o seu processo decisório. Não tem sentido ou razão de ser a Contabilidade como uma disciplina neutra, que se contenta em perseguir esterilmente sua verdade ou beleza. A verdade da Contabilidade reside em ser instrumento útil para a tomada de decisões pelo usuário, tendo em vista a entidade".

Voltando ao Brasil, parece-nos que ainda não absorvemos essa realidade. Uma mistura forte de influência da escola contábil italiana e de imposições governamentais têm conduzido os profissionais contábeis a darem um tratamento no mínimo criticável ao cliente, fazendo com que este geralmente não esteja satisfeito com o nível do serviço prestado e, consequentemente, proporcionando uma imagem duvidosa para a profissão. Por um lado, não exercitamos em profundidade o lado dogmático da escola contábil italiana (embora, a nosso ver, isto não seja desejável) e, muito menos, o lado pragmático da escola contábil americana.

Portanto, o foco no cliente é indispensável para o sucesso do profissional. Uma postura arrojada, rompendo o mito de que nós sabemos definir o que o cliente precisa e assumindo a necessidade de pesquisa em que o cliente revele suas necessidades trará grandes benefícios para a profissão.

Por fim, concluie-se que as perspectivas da profissão realmente são extraordinárias, mas nada vai acontecer sem um planejamento adequado. Nos dias que seguem, as empresas serão vistas como clientes (ou, quem sabe, parceiras); os profissionais como fornecedores de serviços, exigindo-se por parte destes diversas ênfases: competência, profissionalismo, inteligência emocional e marketing pessoal (ver o mundo como um mercado e as pessoas em volta como clientes).

Certamente a idéia de "empresário da Contabilidade" será estimulada, mas com uma "cara" muito diferente do que se tem visto no momento.

Para aqueles que pretendem se manter com vínculo empregatício por um bom tempo ainda, é importante lembrar que se vive na base de um novo vínculo entre empresa e empregados. Com a globalização caíu o velho vínculo que trocava a lealdade do funcionário por segurança no emprego. Diante da necessidade de competitividade, reestruturação, pelo impacto da tecnologia, reengenharia, downsising e outras iniciativas das empresas, essas não hesitaram em demitir empregados que julgavam estar seguros, confortáveis, rompendo assim um grau de confiança entre as duas partes.

Com o fim do emprego garantido, descobre-se o fim da lealdade, da submissão cega, da obediência permanente dos funcionários. Hoje os colaboradores querem cada vez mais transparência da empresa no sentido de melhor conhecer a sua visão, sua estratégia, sua missão e valores. Por outro lado cabe aos colaboradores estarem investindo no seu talento, sabendo que não se permanecem mais "eternamente" numa mesma empresa. .



(1) - HOLLAND, Charles B. Contador: uma profissão em ascenção. Boletim do Ibracon, No. 229/97.
(2) - O perfil do contabilista brasileiro - CFC - Pesquisa realizada em 1995/1996.
(3) - "O Estado de São Paulo", Caderno de Economia em 24/8/97.
(4) - "Folha de São Paulo", Folha de Empregos em 17/8/97.
(5) - "O Estado de São Paulo", Caderno de Economia e Negócios em 24/8/97.
(6) - Corra. Reportagem de Capa da revista Exame No.643, Agosto de 1997.
(7) - Por que os americanos são melhores do que nós ? revista Exame No. 644, setembro/97.
(8) - Aprovada pela Deliberação da CVM No. 29/86 e IBRACON em janeiro de 1996.


Autor: José Carlos Marion é docente e pesquisador na área contábil, presta serviços à FEA/USP, ao mestrado da PUC-SP, FEA/USF de Bragança Paulista e UNIP de Campinas. É autor de 17 livros na área contábil (sendo alguns em co-autoria), mestre, doutor e livre docente pela FEA/USP com pós doutoramento pela Kansas University, Kansas (EUA).

UMA VISÃO PANORÂMICA DA PROFISSÃO CONTÁBIL

Normalmente, se você pergunta aos alunos de primeiro ano do curso de Medicina, qual será sua especialização, não haverá hesitação: uns dizem ginecologia, outro pediatria, ortopedia e, assim, sucessivamente.
Da mesma forma, num primeiro ano de um curso de Direito, quase todos terão uma preferência: área civil, comercial, penal, internacional, etc.
Até mesmo os primeiros anistas de Administração já estão fazendo opção para Marketing, Recursos Humanos, Finanças, Produção, Comércio Exterior, Hotelaria etc.
Já nos cursos de Contabilidade raramente encontraremos alunos com posições bem definidas quanto à sua especialização. Já vi casos de até alunos de quinto ano estarem indecisos referentes a área específica que deverão estar investindo mais acentuadamente.
Ainda que seja muito importante uma visão generalista, é inadmissível se pensar em alguém que não esteja concentrando esforços na especialização de uma área contábil.
Muitas vezes os professores que desenvolvem muito bem o seu conteúdo programático omite informações esclarecedoras sobre perspectivas profissionais, principalmente sobre a sua própria especialização que, normalmente, está relacionada com a matéria que leciona.
De minha parte, tenho trabalhado insistentemente com os meus alunos neste aspecto. Tenho motivado a cada um pesquisar e ter contato com profissionais especializados, com palestristas, literaturas, artigos, reportagens em jornais, etc., para estruturar um banco de dados que alicercem sua opção.
Tenho também, a despeito de minha agenda sobrecarregada, ministrado muitas palestras em diversas instituições com o objetivo de abordar este tema.
Só no segundo semestre de 98 já estive em muitos lugares falando sobre “As Perspectivas da Profissão Contábil”, tais como: UNIRP (São José do Rio Preto – SP), FACCAR (Rolândia – PR), Universidade Estadual de Ponta Grossa – PR, Convenção Estadual dos Contabilistas do Espírito Santo em Guarapari, UNIPAR (Umuarama – PR), UERJ (Rio de Janeiro), Encontro de Delegados do CRC-MG – Belo Horizonte, UNOPAR (Londrina – PR), Universidade de Caxias do Sul – RS, Faculdades de Gurupi (Tocantins), Faculdades de Pato Branco – PR, PUC (Poços de Caldas – MG) etc., além de ter tratado parcialmente na apresentação de trabalho na IV Convenção dos Contabilistas do Estado de Pernambuco em Recife.
Este assunto, dado a sua importância, já venho tratando desde 1983 no prefácio do meu livro Contabilidade Empresarial – Editora Atlas S.A.
Em 1998 preparei um artigo com o título “Preparando-se para a Profissão do Futuro”, publicado pela Contabilidade Vista e Revista (MG), Revista do CRC-PR etc., abrindo o leque e comentando cada especialização contábil com sua perspectiva na virada do milênio.
Particularmente sou muito grato a Deus por ter me dado sabedoria para optar pela profissão contábil. Muito mais, por me dar, antes mesmo de ter iniciado o curso superior de Contabilidade, conhecimento de uma especialização contábil: Analista Financeiro. No meu mestrado dei ênfase à Contabilidade Rural intensificado este estudo no doutorado, Livre-Docência e Pós doutorado em Kansas University.
Todavia, a especialização que mais me identifiquei e que quero terminar a minha vida nela é a docência e pesquisa voltada principalmente para metodologia de ensino da Contabilidade. E na qualidade de docente e pesquisador sinto ter a responsabilidade de contribuir principalmente neste tema que está sendo abordado.
No segundo capítulo do livro Introdução à Teoria da Contabilidade- “O profissional Contábil e a Profissão” – que estou escrevendo junto com o Professor Sérgio de Iudícibus, esbocei um quadro que dê uma visão panorâmica das especializações contábeis. Tenho certeza que em muito ele pode ser aperfeiçoado (e espero suas sugestões). Entretanto, creio ser uma boa “ferramenta” para, principalmente alunos de Ciências Contábeis, estarem meditando sobre, quem sabe, sua maior decisão neste momento.


Fonte: http://www.marion.pro.br/portal/modules/wfsection/article.php?articleid=12José Carlos Marion: Acesso em 01/03/2010, às 22:23 hrs.